segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Orgulho Contestável




É notável a importância do 20 de Setembro para todos nós, gaúchos, que batemos no peito e dizemos que ser gaúcho está acima de ser brasileiro. Particularmente, não concordo com essa teoria regional. Sim, considero a Revolução Farroupilha um grande marco da história gaúcha, que se destacou por ser a maior e mais importante revolta do Período Regencial, mas acho que os pontos positivos acabam por aí. A revolução foi totalmente elitista, então os pobres não podiam pensar que ganhariam alguma coisa, pois, de fato, não ganharam.

No ano de 1835 havia um descontentamento dos grandes charqueadores com o governo central, pois o charque platino entrava no país com preço de venda bem inferior ao gaúcho, visto que este sofria fributações altíssimas. Assim, a elite começou a organizar-se para promover a revolta.

Desenvolverou-se então, uma sequência de fatos: a tomada de Porto Alegre, a Proclamação da República Rio-Grandense, a vinda de Garibaldi e o estendimento da revolução até Santa Catarina. 

Após Dom Pedro II assumir como imperador, era necessário acabar com o movimento, que já estava ganhando proporções consideráveis. Foi aí que mandou o Duque de Caxias (que na época ainda era Barão) para o Rio Grande do Sul com o objetivo de negociar o fim da revolução. Assim, o conflito terminou com um acordo, ao contrário do que muitos pensam até hoje. E quais foram os beneficiados? As elites, obviamente.

Os que sairam, de fato, prejudicados foram os escravos. Esses, recrutados para o combate, tiveram sua liberdade prometida quando a revolução chegasse ao fim. Como a guerra terminou em acordos políticos e a república Rio Grandense extinta, abolir a escravidão era algo impensável ao governo central. Mas esses escravos que batalharam tiveram sua libertação. Somente eles.

Nesse momento, os charqueadores perceberam que o retorno às fazendas seria um caos. E as famílias desses escravos? Continuavam escravas, lógico. A solução, então, foi matar todos os libertos antes de chegarem de volta às suas "casas". Uma grande safadeza com os que deram seu sangue pela causa gaúcha.


E agora eu pergunto: É disso que temos que nos orgulhar? Claro, boa parte das pessoas sequer sabe da versão real da história e acreditam que tudo que foi transmitido pela Rede Globo em "A Casa das Sete Mulheres" foi verídico. Um grande engano.

É por isso que não digo que sou gaúcho. Eu sou brasileiro. Me orgulho, sim, do meu estado, mas me orgulho da minha pátria acima disso. E assim como não gosto que falem mal dos gaúchos, não fico achando que todo bahiano é vagabundo ou todo carioca só vive de samba. As particularidades regionais de cada estado devem ser vistas como riqueza cultural e, acima de tudo, respeitadas.

Apesar disso, ainda admiro os farroupilhas que promoveram a revolução, tamanha foi a organização do manifesto e por ter perdurado por longos dez anos. E acho que temos, sim, motivos para lembrar esse 20 de Setembro, mas sem regionalismo exacerbado, claro.


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